PERFIL
Nascida no arquipélago vulcânico de Cabo Verde, próximo da costa noroeste da África, a médica pós graduada em psiquiatria Leida Lopes de 35 anos, filha de trabalhadores humildes chegou ao Brasil para estudar odontologia na Universidade Federal de Alagoas, através de um convênio educacional celebrado entre Brasil e Cabo Verde. 

Inicialmente a missão era estudar odontologia, mas durante o curso a correspondência que existia entre ela e a missão inicial acabou. Provocada por um desejo antigo Leida decide então encarar o desafio da medicina e se forma em 2020, e na sequencia especializa-se em psiquiatria

No começo, Leida diz que foi difícil porque perdia matérias do curso, chegou a ter dúvidas em vários momentos dada a dificuldade e as exigências. “A medicina para muitos de nós é um caminho tortuoso”.

Ao formar-se em 2020 foi trabalhar em Teotônio Vilela, município da Zona da Mata e distante 100 km da capital Maceió. Foi lá no PS da cidade que Leida despertou para a psiquiatria. Ela observou a necessidade das pessoas por um atendimento nesta especialidade. Na ocasião atuava como clínica geral, tempos depois estudou pós graduação em psiquiatria. Segundo Leida, “a saúde mental é uma área primordial”.

“O meu corpo reflete mentalmente tudo o que faço. A ansiedade é um exemplo disso. Estou  a rede pública, preciso olhar e escutar para ajudar

A África em Alagoas

Existem muitos africanos de vários países do continente que vivem e trabalham em Alagoas. Eles desenvolveram uma rede de sociabilidade que se apoiam e que os fortalecem diariamente. O resultado dessa rede comunitária foi a criação de uma associação que tem o objetivo de atender pessoas em situação de vunerabilidade e comunidades distantes. “Criamos uma associação de africanos médicos em Alagoas que presta assistência às comunidades tradicionais e quilombolas” relata Leida. Embora os encontros sejam difíceis, eles acontecem e cumprem uma missão importante no interior do Estado.

Esse percurso no campo de Saúde que a associação desenvolve os deparou com uma realidade bastante latente no Brasil, e que no Continente de África não é comum, o racismo. A Drª Leida só foi compreender o racismo em solo brasileiro. “A sociedade brasileira é brutal” Algo que lhe chamou a atenção quando ao chegar em uma comunidade quilombola uma mulher disse a ela” finalmente chega a gente da nossa cor que pode nos entender” . Essa é a novidade para muitos dos africanos que desembarcaram no Brasil na conjuntura da internet e da inteligência artificial.

Os pais de Leida nunca estudaram, mas eles garantiram e fortaleceram os seis filhos para que todos  pudessem acessar a faculdade. Todos possuem instrução universitária para o orgulho dos pais. “ minha mãe dizia que não éramos para dar certo” qualquer semelhança com a maioria da população brasileira, negra, diga-se de passagem não é mera coincidência. A minha família é a base, conclui a psiquiatra “afrobrasileira” Leida Lopes.

2 COMENTÁRIOS

  1. Tive a oportunidade de conhecer a dra Leida Semedo Lopes pessoalmente, na graduação. Um ser humano incrível, de uma força incomensurável! Possui uma alegria nata que ilumina qualquer ambiente, qualquer coração. A psiquiatria te escolheu, dra! Sucesso!!

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